quarta-feira, 4 de agosto de 2010

No rumo das quimeras

Começa aqui:

Me falaram, tive de escutar, sobre o texto que postei, me disseram que aquilo que meu texto falava, "era a realidade; muito pesada".
Respondi, "tudo bem, tá, que é muito pesado, mas é só um texto, não a realidade."
Me convenci com essa resposta.

Desde então não me convenço com este meu convencimento, este ponto final.
E ficou na minha cabeça uma pergunta sem resposta, que volta e meia vem: "o que é a realidade nas coisas"? "a realidade?"

Comecei então numa análise clássica, com método e porra-toda, considerando o conceito, o conceito de realidade:
Primeiro: a subdivisão (a análise):
Pergunta número 1: do que é feita a realidade?
Ela não é feita de meus-textos, de palavras, não totalmente; ainda que tudo isso faça parte do real também. É ou num é?
De que ela é feita?
É feita de percepção? de uma subjetividade? daqui de cá, dos interiores nossos? do daí, de dentro de você, e também de uma exterioridade? da exterioridade? dum outro? dos outros? do resto? dos restos, das coisas?; tudo isso cada um, no dentro da outra? junto, quase que um só? e tudo isso fazendo o que? uma dizendo para a outra como tudo tem que ser? Formando misturado uma grande totalidade: o real?




Isso, ó. (...)

(?)

Isto!




Isto, o tempo todo, repetido, ganha um movimento próprio; o falatório de tudo. Todos os mandos, viram ritmo, vira uma música, a realidade.
E tudo, o dentro, o fora, o depois, o agora, canta a mesma música; de ordens e História, a música de ser o mesmo, que nem nos damos conta.

E ela mesma já em movimento, a realidade, do impulso do turbilhão das tantas subjetividades, oceano delas, cantando, dos compromissos inadiável das coisas, cantando. E mesmo já veio com um peso incomensurável sobre o nada. Viu? E às vezes até o que ainda não é, já virou realidade, já está vendido, benzido, já existiu. Cantou seu hino. O princípio de algo, nem não teve, e já vinha seu fim; o futuro veio antes. Natimortos, a realidade.

A realidade nas coisas? é o peso dela mesma se querendo pra sempre, inventando o tempo. E será? E depois? será?

Mas olha pr'ocê ver!: Misturar a realidade com totalidade pode confundir tudo, por que desse jeito não tem nada mais real ou menos real; pois tudo é real a medida em que existe. E isso pode? Mesmo o sonho é realidade se existiu, como parte dela, momento. Os delírios, as fantasmagorias.
E se realidade é totalidade, é que tem algo nessa realidade, algo totalizante, que a expande e a transforma em universo, no tudo.

E seu dinheiro gasto, que ela mesma cunhou, compra até o fim do mundo. Comprou! A existência toma outros rumos, já tomou, das quimeras.

Mas pior do que confundir tudo é esclarecer demais, misturar realidade com verdade, achar que ambas são uma só: como se algo fosse mais real que outro algo a medida em que seja mais verdadeiro. Crendices. Os idealismos. Mas é de Verdade que se fez a Realidade, essa Realidade, a que só acredita em Si. Que destrói outros horizontes. É feita de verdades a terra da mentira ! - ?





Acaba aqui.

8 comentários:

  1. Só para "confundir" ainda mais: Hegel diria sobre a realidade: "O real é o racional e o racional é o real". Mas ele separaria o real da realidade. Lacan, por outro lado pensa essa frase de Hegel com sua resposta "O real é o impossível" e Bataille pensando na mesma questão diria " O racional é o irreal"

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  2. O abstrato, está aí um componente do real. E se o abstrato é conteúdo o que há de mais no real? Será mesmo que totalidade e realidade são assim, como um ser só?

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  3. Ish doido, é isso aí, bem vindo ao real e boa sorte.
    Nas minhas peripécias filosóficas-experimentais, real é ser, é não-ser, mas ainda mais, é vir-a-ser. São as misturas, as potências, as clivagens, os encontros. Percepção, pensamento, sensação: realíssimas derivações desses afetos inerentes de pré-corpos, ou corpos em potência. E desse emaranhado de forças, donde brotam superfícies, se inscreve a linguagem que tenta esquadrinhar o real, na ância das categorias e da purificação do conhecimento como se esse fosse unívoco - ou que realmente constrói uma cultura real em que homens reais são vetores de sua existência; linguagem que é real e que cria real, ainda mais quando potência de ampliar percepções e de expandir o invisível em vislumbres.
    Um paradoxo não dialético, labiríntico (porém sem paredes), entre ser, não-ser, entre atual e virtual, que só existe enquanto movimento de tornar-se e que abre seus braços para que mergulhemos em seus mistérios.

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  4. Gostei muito da sua pergunta Beta!
    Procurei tentar não afirmar isso no texto, deixar a pergunta em aberto, deixar a dúvida.
    A questão que se coloca, entretanto, se pensarmos com Hegel, com aquela frase do Henrique!, leva-nos a essa compreensão, de que totalidade e realidade são um só ser. Pois a medida em que racionalizamos todas as formas de existência, as mesmas se igualam numa mesma totalidade, a totalidade do real-racional. E aqui a idéia de realidade nada tem haver com formas concretas de existência, pois as formas abstratas, se inserem também nessa totalidade. Porém não vejo este movimento do pensamento, da racionalização, de maneira nenhuma positiva. Estava lendo um texto do Adorno (Sobre Sujeito e Objeto - http://adorno.planetaclix.pt/tadorno2.htm )que trata justamente dessa questão. Que racionalidade é essa que permite uma igualação abstrata de tudo? Que vê em toda forma de existência um por trás, algo anterior, um pré-concebido mundo? Pois assim igualam-se os homens também, no sujeito transcendental. E todos são iguais para vender seu igual tempo de trabalho. Não seria essa racionalidade a do sujeito-mercadoria-dinheiro? E tem, o fora dela ?

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  5. falar de realidade, verdade, é falar também do estado de consciência, e as ilusões de ótica...
    li esse trecho hoje e acho que cabe. "...vagamos pelo mundo aparentemente acordados,mas suficientemente sedados para que possamos esbarrar apenas em nossas próprias projeções: fantasmas do passado, alucinações do desejo e defesas - espécie de seguranças armados que deviam nos proteger (vai saber de que) e acabam se virando sempre contra nós mesmos..."

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  6. Mas olha como é louco... porque, pensando na Crítica à Ciência e ao Iluminsmo, como ideologia de domesticação da sociedade moderna, sociedade do valor, o racional de Hegel acaba por perder sua justificativa. O racional dá lugar a uma irracionalidade. Irracionalidade abstrata, se a gente pensar na coisa da tautologia do capital. Produz trabalho abstrato, pra produzir mais trabalho abstrato, valor para valor. Então, o real vira o que? E o racional, o que é?

    E mais louco ainda, pensar que, como disse o Rafael, como toda essa realidade é subjetivada e vista como questão do indivíduo, que vai para a análise e não consegue chutar um caixa de banco, quebrar uma vidraça, nada.

    bjos

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  7. o racional de hegel perde sua justificativa?
    avise as máquinas, por que elas não pensam assim...

    nunca a formulação de hegel esteve tão presente como justificativa do moderno, o sujeito transcedental consumidor consciente é a prova disto, se o que quer é uma justificativa científica...

    e, confesso, me parece o mesmo denominá-lo irracional ou racional, não vejo vantagens em um ou outro; mas ambos, abstratos, de qualquer modo.

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  8. sim! semanas depois, consigo visualizar uma ponta de formulação entre racional e irracional como iguais. Porque nada mais racional que tudo isso aí, que está saltando aos olhos, ouvidos, boca, nariz e coração. É racional.

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